segunda-feira, 27 de abril de 2009

Encontro de Varginha

No dia 22 de abril aconteceu o encontro para discussão do plano decenal em Varginha.

A defesa da educação para a cidadania foi o ponto alto de debate no encontro. Foram cerca de 150 participantes das cidades de Campo do Meio, Alfenas, Três Corações, Itajubá, Pouso Alegre e Varginha. O prefeito da cidade, Eduardo Corujinha (PT), esteve presente no debate.

O deputado Carlin Moura, autor do requerimento, fez um apanhado das principais sugestões apresentadas nas seis etapas anteriores do fórum. “O Plano original, vindo do governo tem mais cara do executivo, pois os pontos dos movimentos sociais não foram contemplados”, afirmou.

A professora Leni Maria de Rabelo, da Associação de Professores Públicos Minas Gerais, responsável pela organização da etapa regional do fórum afirmou que a cidade de Varginha está em festa por poder participar da elaboração e aprimoramento do Projeto de Lei 2215/2008. Ela pediu aos deputados empenho para a aprovação das sugestões e afirma que é preciso que o professor recupere o prestígio que tinha nas décadas passadas. “Nos anos de 1970 era o máximo ser professor, hoje você pergunta a uma criança o que ela quer ser, ela responde tudo, menos ser professor, e isso é muito triste”, desabafou.

Carlin salientou que há divergências entre vários pontos do Plano. Ele citou como exemplo as metas físicas propostas, como por exemplo a construção de quadras e de laboratórios, que na sua opinião todos os trabalhadores em educação concordam. Mas ele apontou que não basta somente a estrutura física, também é preciso de um plano pedagógico que contemple essas práticas e principalmente enfrente as desigualdades sociais e regionais. “É preciso de uma escola que atue no resgate de crianças da precarização a que estão submetidas”, afirmou.

O deputado citou ainda, algumas mudanças que devem haver para uma educação cidadã, tais como, valorização do professor; a retirada da avaliação de desempenho tal como é praticada; a escola referência nos moldes atuais, que só gera competição; a contemplação da educação no campo e educação de recuperandos; mais investimentos na educação superior e a formação técnico-profissionalizante. “É preciso preparar a juventude para as nova tecnologias, sem perder de vista sua formação humanitária”.

O professor universitário e da rede pública, Nelson Pereira de Andrade, foi convidado especial do fórum para fazer uma análise histórica da educação no país. Ele agradeceu o privilégio que os professores têm ao ter sempre uma platéia para ouví-los. “O ser humano não é individual, mas coletivo, por isso é preciso ouvir as pessoas. As verdades são construídas no coletivo”, afirmou.
O professor citou como a educação no Brasil evoluiu e contribuiu para a cidadania, que para ele é constituída por três direitos fundamentais: o civil, o político e os direitos sociais. Mas questionou até que ponto os direitos dos cidadãos estão sendo cumpridos.

Segundo Nelson, o direito a educação também define a cidadania, e que os direitos sociais não são presentes do governo, mas um direito do cidadão. “A partir do momento que esses direitos são tratados como se fossem presentes ao cidadão, a cidadania torna-se tutelada”, completou.

Para Nelson, a educação é pré-requisito para todos os outros direitos e para o avanço da cidadania. “Em 300 e poucos anos não dá para se discutir cidadania, pois na época do Brasil colônia, entre reis e súditos não havia cidadania, o que havia era catequese”, afirmou.
Posteriormente, os escravos eram tratados como mercadorias falantes e não havia preocupação em educar-lhes. “Só aí são quase 100 anos, num total de mais de 400 anos de exclusão”, afirmou.
O professor fez um apanhado cronológico da “evolução” da educação no país. De acordo com ele, até os anos 30 no Brasil não havia educação de fato instituída como objeto de direito. De 1930 até 1964, há uma maior urbanização, muda-se a aparência e surge a necessidade de construir uma política de escolas públicas. Nesse momento surge uma educação de qualidade e uma valorização do agente educador. Entretanto, a educação chegava a poucos. De 1964 a 1985, os direitos políticos são cortados e há um retrocesso na educação. Ampliou-se as vagas mas descuidou-se da qualidade do ensino. Na medida em que essa qualidade diminui, o nível de credibilidade dos professores também cai e isso só piora na medida em a educação começa a aglutinar a lógica da iniciativa privada. “Mas a humanidade sempre encontra respostas, e de 1985 até hoje, as lutas aumentam e a abertura política nos mostra mais caminhos para superar os problemas”, afirma.
Nelson fez três propostas para tentar reverter tais problemas: 1ª - Rever a lógica de pensar a educação como formadora de mão-de-obra, mas como instrumento de cidadania, cobrando do poder público respeito e instrumentos para colocar essas propostas em prática; 2ª - Valorizar o professor, resgatando também sua credibilidade, e abrir espaço para a formação contínua dos mesmos. “O professor virou o bóia-fria da educação”, afirma e 3º – dar condições de trabalho para os professores, com horário programado para preparar aulas, atender pais e fazer reuniões. “O espaço de trabalho tem que fornecer essa estrutura”, ressaltou.

Para encerrar o professor citou o educador e escritor José Murilo de Carvalho que diz: “a ausência de uma população educada dificulta na formação da cidadania”.

fonte: Jornalista Sheila Cristina - www.carlinmoura.com.br

Encontro de Juiz de Fora

O tema que mereceu mais discussão na etapa regional do Fórum Livre do Plano Decenal de Educação que aconteceu sexta-feira, 17/04, em Juiz de Fora, na zona da mata, foi a Educação de Recuperandos, ou a falta dela, no sistema carcerário de Minas Gerais. A defesa desse direito foi feita pelo professor e membro da Pastoral Carcerária, professor Manuel Paixão.

Estiveram presentes, cerca de 300 pessoas, das cidades de: Carangola, Barbacena, São João Del Rey, Muriaé, Viçosa, Ubá, Caratinga, Cataguases, Santos Dumont e Leopoldina.

Esse encontro foi o segundo da série de quatro fóruns, organizados pelas entidades parceiras que levarão sugestões de mudanças e complementos, ao debate final do Projeto de Lei – 2.215/08, que prevê a educação no estado para os próximos 10 anos. A etapa final acontece nos dias 13 a 15 de maio em Belo Horizonte.

O deputado Carlin Moura PCdoB, autor do requerimento, ao presidir a reunião, chamou os presentes a uma análise da educação que temos. “Para criarmos propostas concretas e pertinentes para a educação, antes de qualquer coisa, se faz necessário conhecermos profundamente a educação que temos”, afirmou. De acordo com o deputado, a metodologia de análise do Plano deve se passar por três pontos: ver, julgar e agir.

De acordo com Carlin, baseado em estudo feito pela Cientista Política e Assessora do Sinpro-Minas, Ana Maria Prestes Rabelo, o Plano vem de uma construção coletiva duvidosa. O deputado citou alguns pontos divergentes e não satisfatório, como a perseguição, por parte do governo, de metas para prestígio externo, colocando a educação como vitrine do governo Aécio, o que representa um descolamento da realidade.

Carlin mostrou outra contradição entre o plano e a prática, o apoio à democratização da gestão. Mas contraditoriamente, o plano prevê aumento do número de intervenções e maior presença de supervisores e inspetores nas escolas para perseguirem as metas almejadas.

O professor Manuel Paixão cobrou mais fraternidade na segurança pública e criticou o Plano por não constar nem uma linha sequer que trate da educação dada nos presídios. “É preciso humanização”, salientou Paixão, ao citar exemplo do Ceresp de Juiz de Fora, que foi construído para abrigar 240 presos e hoje abriga 820, e não há nenhum educador socializador.

O educador cobrou mais investimentos para a educação dada nos presídios e mais atenção do estado para com esses alunos. “Muitos de nós não somos preparados nem mesmo para as escolas normais, quanto mais para trabalhar dentro das penitenciárias”, afirmou.

Paixão apontou ainda, os preconceitos e as dificuldades que cercam os professores que trabalham com recuperandos. “Somos perseguidos e vigiados dentro dos presídios. Não podemos nem mesmo dar um abraço ou tocar de forma mais simples em um aluno, pois logo somos tachados e mal interpretados. Como podemos ressocializar, se não temos nenhuma condição de trabalho, infra-estrutura e nem mesmo de demonstrar afeto?” indagou.

Paixão citou a Campanha da Fraternidade 2009, que tem como tema a Segurança Pública e Fraternidade e chamou governo e sociedade a reflexão.

Para o Vereador e membro da comissão de educação de Juiz de Fora, Professor Roberto Copolillo é a questão do “ranqueamento”. Para o professor a escola virou números, utilizados para concorrência. O professor afirmou que a educação em Minas é pura maquiagem. “Quem teve a oportunidade de ler a revista “Radiografia da Educação”, publicada pelo Sind-Ute, pôde ver claramente a realidade da nossa educação. Essa revista desmascarou a falsa educação de Minas”, completou.

O Professor da UFJF Romário Geraldo, destacou a importância do incentivo à capacitação dos docentes. Ele citou exemplos de iniciativas a nível federal que poderiam ser usadas para professores do Estado, como por exemplo, o caso da Fapemig. “Porque não se pode estender a capacitação que é dada aos professores federais para o estado?” indagou. Romário ressaltou também a importância de uma rede de formação técnica profissional de qualidade.

Os problemas e sugestões referentes a educação infantil ficou a cargo do departamento de educação Infantil da Prefeitura de Juiz de Fora, representado pela professora Lúcia Helena da Silva. A professora ressaltou a importância de a creche estar incluída na educação, pois segundo ela, quando isso acontece se ganha outra perspectiva. Lúcia cobra pedagogia própria para dar a creche uma identidade dentro da educação, “creches não deve ser depósito de crianças, mas um lugar de cuidar e educar que é uma tarefa indissociável”, afirmou.

Para a professora da UFJF, Margarida Salomão, o Plano deve-se ter um consenso de equidade e justiça social. Margarida questionou pontos do plano que prevê laboratórios de informática, quadra coberta, etc. “Quem aqui não vai querer isso”, indagou. “Porém, precisa se discutir a pedagogia a ser adotada, deve-se ter profissionais capacitados para ensinar o que é proposto. É fundamental discutir o que será dado nas escolas”, completou.

A professora deixou como propostas, a eliminação de premiações de professores na escola, e ao invés disso, investir na capacitação. Para ela não há sequer uma formação para pessoas que trabalham em áreas de vulnerabilidade. Outro ponto, é que haja no Plano, dispositivos concretos para acabar com as desigualdades.

Encerrando o debates a Coordenadora Geral do SindUTE/MG, professora Maria Inês Camargos, lembrou que nesse mesmo dia, 17 de abril, só que de 1996, houve um assassinato a sem terras em Belém do Pará. “Isso nos lembra que mesmo com sangue derramado, nossa luta não pode parar”.

Maria Inês afirmou que os professores querem ser ouvidos e fazer a sua parte. Ela solicitou a Assembléia que as propostas sejam votadas para o bem da educação. Para a professora, o Plano é muito contraditório, e faltam metas e ações estratégicas. Ela cita o caso da gestão democrática, que deve ser muito mais que votação para diretores, mas também um fortalecimento e participação efetiva do colegiado. Ela ainda citou a questão do financiamento, da remuneração, do piso e cobrou condições adequadas de trabalho.

Para a representante da secretaria de estado da educação, Maria de Lourdes, as propostas de todos os envolvidos no Plano devem ser bem pensadas e elaboradas, pois segundo ela, algumas propostas serão eliminadas. Para a presidente da Comissão de Educação da Assembléia, a deputada Maria Lúcia Mendonça – DEM e para o deputado Carlin Moura, no que depender do trabalho deles frente à Assembléia, eles brigarão para que todas as propostas de melhoria da educação, vindas dos fóruns façam parte do Plano final.

Fonte: De Juiz de Fora: Sheila Cristina (www.carlinmoura.com.br)

Encontro de Divinopolis

Foram mais de 250 pessoas inscritas para o Encontro de Divinopolis de discussão do Plano Decenal. Dentre as cidades presentes em Divinópolis estavam Oliveira, Bom Despacho, Carmo do Cajuru, Pompéu, Cláudio, Formiga, Itapecerica, Itaúna, São José Salgado, Nova Serrana, São Sebastião do Oeste e Belo Horizonte.

Várias entidades estiveram presentes no encontro. A apresentação do plano coube à representante da secretaria de educação Maria de Lourdes Prais, à presidente do SindUte Maria Inez Camargo e à Cientista Política e Consultora em Políticas Educacionais Ana Maria Prestes.
Os grupos temáticos funcionaram plenamente e fizeram uma série de críticas e sugestões ao plano, já encaminhadas para a comissão de sistematização da ALMG.

O Fórum Livre de Divinópolis foi o primeiro de uma série de quatro debates. Ainda serão realizados debates em Juiz de Fora, Uberlândia, Varginha.